quarta-feira, 2 de abril de 2008

Roncó! Como vim parar aqui? (1ª Parte)

Meu corpo não se mexe. Escuto todos a minha volta, mas meu corpo não se mexe. O atabaque parou de tocar. Seu som ainda ecoava em minha cabeça, mas minha cabeça permanece imóvel encostada ao chão do Ilê de meu Babalorixá. Os irmãos que participaram do meu Bolonan festejam o momento. Continuo escutando, mas permaneço imóvel, enfim havia chegado o momento. Sinto que estou flutuando, mas na verdade sou carregado para dentro do Roncó. Este seria meu lar pelos próximos 21 dias. Lá minha fé seria testada por Ayrá, Orixá que tanto amo.

Acordo no interior do Roncó. E minhas lembranças retornam aos momentos de meus primeiros contatos com a religião. O candomblé é belíssimo e ao contrário do que parece na visão dos não praticantes nossa religião não é uma seita, não é um pacto, não é feitiçaria, não é um meio de conquistar o que se deseja de modo fácil, enfim, somos iniciados na religião para sermos sacerdotes, para lembrar-mos que sem a natureza não há vida, que a natureza esta representada pelos nossos Orixás, que sem o respeito pelos antepassados não ensinamos respeito a nossos filhos, netos e bisnetos, para aprendermos os fundamentos de conhecimentos a tempos esquecidos, não por todos, mas por grande parte da civilização organizada da forma como vemos hoje, onde o contato com as energias da natureza fica cada vez mais restrito a plantas em vasos ou a criação de nossos queridos mascotes dentro de nossos lares de concreto em nossas cidades.

Eu era criança e ficava curioso ao ver minha bisavó e minhas tias vestidas com roupas diferentes, dançando vigorosamente apesar da idade. Suas vozes ecoavam forte naquela sala branca de uma casa no subúrbio da cidade do Rio de Janeiro. Essas imagens sempre me marcaram, mas não tinha idéia de que um dia eu estaria assim como elas seguido uma religião de origem afro-brasileira. Cheguei a adolescência, fiz catecismo, primeira comunhão, mas nunca segui o que estudei ali e após minha primeira comunhão se encerrar nunca mais voltei a igreja para assistir uma missa por vontade própria.



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